O livro dos pequenos nãos

 


O livro dos pequenos nãos

 

Li recentemente o livro de Heloisa Seixas, resisti em lê-lo pois, desde o início do semestre não estou conseguindo ler literatura, voltei da FLIP com tantos livros que me gerou uma ansiedade em ler todos que acabei não lendo nenhum, 

ainda. 

É um não temporário, acredito que não vá me causar nenhum dano. Entretanto, foi um sim para o livro dos pequenos nãos, o Estado da vez foi o Rio de Janeiro, embora a história não se restrinja a cidade.

Um livro curioso, poderia ter sido vários contos, mas não foi. É um romance, mas também transita em ficção histórica e mistério, que se desenvolve no presente e passado, voltando a tempos de guerras passadas, como a guerra dos canudos na Bahia e que de alguma forma entrelaçam-se ao final como histórias ancestrais. Confesso que talvez precisasse reiniciar o livro para pegar os links de uma história e outra. Mas, fico com a primeira leitura que me fez refletir e escrever.

Um enredo que explora o impacto das decisões e desperta a nossa imaginação, fiquei tentando lembrar dos nãos que disse e os que deixei passar, são as pequenas escolhas que constantemente estamos tomando ou deixando de tomar que traçam o curso da vida. Mas antes de exercitar a minha criatividade e entender os nãos foi preciso lembrar dos sins e, a partir disso, imaginar os possíveis nãos. 

Lembrando dos sins, logo veio a lembrança do filme Yes, Sir (Sim, Senhor) com Jim Carrey de 2008, um filme com muita graça mostra o poder da positividade, o querer de verdade. Depois de pensar nos sins e lembrar desse filme, que assisti de novamente, consegui pensar e criar histórias na minha cabeça dos possíveis nãos, o que aconteceria se eu tivesse dito não? E, talvez, o que Lia, a protagonista da história, não tenha dito se prendeu no Tito e sucedeu-se um emaranhado de histórias para compor o livro na trama entre Lia e Tito. Confuso, essas negativas que afirmam?

E para não dar spoiler, conto os caminhos que percorri, 

certa vez, eu estudante do curso de educação física e corredora de aventura participei de uma prova que me deixou exausta e cheia de dores musculares, estava chateada por não ter conseguido completar a prova e por ter desistido, 

tanto esforço, 

é um tipo de competição que valoriza o trabalho em equipe, a categoria principal é o quarteto misto. Embora nessa prova, especificamente, alguns treinaram e outros não treinaram e tivemos que desistir por falta de preparo físico, que afeta o psicológico e, consequentemente, a vontade de terminar. 

Nessa energia, acabei não querendo me levantar no outro dia mesmo tendo uma entrevista para uma seleção de intercâmbio que tanto queria. Acreditei que não iria passar e não passei mesmo porque acabei não indo. E os dias passaram, me recuperei fisicamente da corrida e resolvi me preparar sério para as provas de aventura, sai da equipe que corria para entrar em outra com os mesmos propósitos de vitória que eu. Meu amigo querido, o que nunca treinava, ficou chateado e nunca mais nos falamos. Corri, corri e corri muitas provas ao longo daquele semestre em que me formei, idealizei um projeto de corrida de aventura para adolescentes num programa social da Universidade - foi meu trabalho de conclusão de curso. Formada, resolvi abrir uma empresa, com foco no desenvolvimento pessoal, liderança, cooperação e enfrentamento de conflitos para empresas, por meio das atividades físicas na natureza.

Como Lia, tinha um namorado, meu relacionamento era discreto e completamente sem graça, não planejávamos nada, não tínhamos conflito e cada um seguia seus planos individualmente. Até que numa noite em que estava viajando com um grupo de pessoas que iriam correr o Moutain Do em Florianópolis, falávamos ao telefone, ele em Porto Alegre, onde estava chovendo muito, tempestade com raios e trovões a ligação caiu. Dias depois, conseguiram falar comigo, descobri que morreu eletrocutado naquela ligação. Meu namorado havia morrido! Ninguém soube se falava no celular, com quem falava ou, se foi ao pegar o celular que estava carregando na tomada. Só sabem que estava na casa de uma fulana, estava enrolado numa toalha pois, tinha acabado de sair do banho quando pegou o telefone. Não contei a ninguém que conversei com ele naquela noite. Não quis saber quem era a fulana. Foi uma fatalidade que - felizmente não aconteceu (foram tantos nãos dentro do não que poderia desenvolver melhor esse enredo, ficará para uma próxima). Entretanto, o Vito (pra ficar no contexto do livro e se parecer com o Tito) morreu da minha vida pela sucessão de sins que decidi encontrar.

Lembra daquele “não” em negrito do décimo primeiro parágrafo, 

mesmo com muita dor muscular, me levantei daquela cama, cedo, naquela segunda-feira, já havia pedido dispensa do trabalho, peguei ônibus, metro e o circular da universidade para chegar à entrevista individual com os psicólogos responsáveis pela seleção dos estudantes para o programa Canadá/Unisinos. Durante toda a entrevista, respondi à uma única pergunta, logo após pedir desculpas pelos meus cinco minutos de atraso pois estava caminhando devagar e com muita dor por ter corrido uma corrida de aventura - eles me perguntaram: o que é corrida de aventura? É tão bom e fácil responder sobre o que se gosta, passei uma hora falando sobre corrida de aventura e do meu amigo que não gostava muito de treinar, mas erámos amigos e nos divertíamos muito. Sai feliz e acreditando que não iria passar naquela seleção em que só eu falei. E a vida tomou outros rumos, continua tomando e eu continuo preferindo os sins, adorei o exercício de imaginar é quase como uma corrida de aventura - tudo pode acontecer.

 

Yumie Okuyama

Escrito em 13/10/2025


Ps: Nem falei da capa, essas pedras, cruzam o caminho da gente, podem estar soltas (ou firmes no chão), simbolizam os obstáculos e desafios que surgem no caminho e na vida.

 


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