O pássaro secreto de Marilia Arnaud
Depois de ler o livro fiquei me perguntando o que eu achei?
Só me vinha à mente aquela sensação de desconforto ao terminar o livro, lembrança de colocar o dedo na goela para vomitar como quem sente vontade de provocar o próprio vômito para aliviar algo que não foi bem digerido. Detesto recorrer a isso, mesmo sabendo que vou me sentir melhor, não gosto de forçar o vomito.
Não gosto de criticar negativamente as obras que leio, nem afirmar que não gostei, pois acredito que muitas vezes a questão reside no leitor, em alguma limitação própria. Leitor e escritor podem simplesmente não estar na mesma sintonia.
Por isso, é difícil para mim compreender Aglaia Negromonte em meio aos seus transtornos alimentares e distúrbios mentais durante uma fase que pode ser tão fascinante quanto a adolescência (eu tive muitos amigos e joguei no time de futsal da escola, primeiro time feminino de futsal, conquistado com muito “grito”), ao contrário dela, esse período pode ser profundamente obscuro, marcado por dores intensas e experiências que aprisionam de forma assustadora.
Nem sei se eu posso fazer esse comparativo do real, meu, com o irreal, ficcional dela, mas estou entre amigas.
E a capa, não posso deixar de comentar sobre as capas, uma tão magnifica, de um pássaro com uma asa aberta cheia de cores, impossível não se deslumbrar com a beleza quase viva nas mãos. Adquiri a outra edição, publicada pela Tag — uma curadoria por assinatura que lançou o livro em uma versão quase monocromática e melancólica. A beleza minimalista dessa edição expressa bem a infelicidade de uma jovem perdida em meio à quantidade de rabiscos.
O livro é bem ficcional e sentimental quase uma ópera nas mãos, eu mesma nunca fui a uma ópera só conheço nos filmes, assim como nunca li Shakespeare, nem Tchekhov entre tantos outros citados como referências do pai da protagonista. Lembro apenas da série “A Vida Como Ela É”, adaptada dos contos de Nelson Rodrigues que passava no último quadro do Fantástico (final da década de 90) repleta de dramas familiares e desfechos conturbados. O livro também me trouxe lembranças daqueles anos ao mencionar David Copperfield, entre outros momentos, como pegar tatuíra na beira da praia — uma atividade que também fiz quando criança.
A narrativa se desenvolve em um ambiente profundamente intelectual e artístico, cenário onde uma criança tem a “sorte” — ou talvez o azar — de crescer, quem vai saber? Isso me causou certa inquietação; confesso que gostaria de ter tido um pouco dessas referências, ainda que fossem dramáticas ou trágicas.
Por fim, transitando nos meus pensamentos, acredito que uma das funcionalidades da literatura é despertar para o que existe no outro, aceitar o outro, a possibilidade de diferentes formas de sentir e a repercussão que isso possa causar. A empatia faz renascer algo belo em nós, e por isso recomendo a leitura.
Marilia Arnaud, paraibana, venceu o prêmio kindle em 2021 com esse livro, um prêmio importante para autores independentes, apesar dela já ter livros publicados por outras editoras ela se faz da liberdade para alçar voo e percorrer outros caminhos.
Escrito em 12/08/2025, o sétimo livro do clube do livro.
Sim, sim, sim!!! "Por fim, transitando nos meus pensamentos, acredito que uma das funcionalidades da literatura é despertar para o que existe no outro, aceitar o outro, a possibilidade de diferentes formas de sentir e a repercussão que isso possa causar. A empatia faz renascer algo belo em nós, e por isso recomendo a leitura."
ResponderExcluirObrigada pela leitura e por realçar o que gostou ;)
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