Os que bebem como os cães
Comecei a ler o livro um dia depois de assistir o filme “Ainda estou aqui” e nas primeiras páginas me vinha a imagem da “Eunice Paiva” (interpretada pela “Fernanda Torres”) trancada no quarto escuro quando tinha sido presa e torturada na ditadura e, fiquei com essa imagem vindo na minha cabeça. A leitura se arrastou muito, não por ser uma leitura difícil, mas por ser repetitivo, lento. O livro tem apenas um personagem que se encontra numa confusão mental, uma lavagem cerebral, sem consciência de quem ele é. Preso de forma desumana sem saber o motivo. É dividido em três cenários (cela, grito e pátio) que se repetem o tempo todo de forma aleatória. Essa iteração com falta de interação no livro me remete aos tempos de ditadura que proibia reuniões com mais de três pessoas sendo duro para os artistas, músicos, escritores, estudantes, professores, jovens em geral – tempos de repressão.
A relação espaço – tempo narrativo, a duração das ações (que são rápidas, quase não percebemos) narradas lentamente, um tempo psicológico – misturando um presente com a falta de passado e futuro, complexo, ele perdido sem saber se o banho era uma vez na semana ou uma vez no mês? O horário da sopa uma vez ao dia. Ele perdido no tempo, na falta de lembranças.
Do meio pro final, a leitura fica melhor, o personagem ganha vida ao mesmo tempo que ele lembra o seu nome e vai tomando a consciência pela percepção e convivência com o rato. Embora, a condição do estado deplorável e desumano também aumente. Nesse ponto, comecei a me lembrar muito dos filmes nazistas, dos campos de concentração e extermínio em massa que já assisti.
Acredito que seja um livro atemporal, não vivemos mais na ditadura (no Brasil), mas a desumanidade, maldade e a violência entre os homens existem. Não estamos presos pelos braços como Jeremias porque precisamos das mãos para nos prender (em algum espaço-tempo) ao deslisar os dedos nos alimentamos das mídias sociais e das falsas notícias, nos bombardeiam de informações que, muitas vezes não informam e sim desorientam, regidos por aqueles que almejam a supremacia e assim, continuamos ora ou outra, bebendo como cães.
Yumie okuyama
Livro: Os que bebem como cães
Autor: Assis Brasil
Estado do autor: Piauí
Escrito em 14/03/2025 para me fazer presente no nosso clube do livro - saber ouvir e poder partilhar das minhas impressões. Se fizer sentido sorriam e bebam uma por mim e se não fizer sentido sorriam e bebam uma por mim.
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