Cadê a glória?
“A glória e seu cortejo de horrores “, Fernanda Torres explicou o título de seu livro na entrevista com Bial em algum dia de 2017, que eu revi recentemente. Ela contou que é uma frase de família, sua mãe, a grande Fernanda Montenegro, dizia, quando ganhou o Emmy Internacional Fernanda Montenegro foi acompanhada de um tratamento odontológico. Fiquei pensando muito nesse título, será que toda glória vem acompanhada de algum horror?
Estou sendo cortejada de horror desde 2021 quando decidi guardar meu orgulho de ser professora universitária com mestrado e doutorado para passá-lo a limpo em casa, na vida doméstica. Desde então, fui envolvida por uma dor de dente que me atormentou meses, até chegar no terceiro dentista que me disse: “é canal, você precisa fazer um tratamento de canal”. Depois disso extraí dois dentes, fiz metade de um canal em outro dente, sua extração e um implante. Recentemente, fui no dentista para a manutenção do primeiro canal e descubro que estou com os dentes trincando ou trincados. E me pergunto quem vem primeiro a “glória” ou o “cortejo”. Literalmente ou historicamente, vejo sempre a “glória” e depois o “cortejo” acompanhando atrás.
Na língua portuguesa glória é sinônimo de orgulho. Deveria eu ter orgulho de pausar a minha vida para me dedicar a casa, filhos e família? Acho que sim, não deixa de ser nobre apesar de ser pobre em termos de sucesso profissional. O sistema patriarcal nos pede para parar pois quem vai cuidar dos filhos? As mulheres estão numa luta ferrenha para não pararem pois o que elas terão se não for as suas profissões?
E eu continuo nesse dilema de “glória” onde está a “glória”? Sentada na cadeira do dentista, só vejo o “cortejo”, trazendo uma placa dentaria para os meus dentes descansarem a noite e poder protegê-los uma vez que a causa de ranger os dentes é multifatorial ou seja stress.
Será eu a “glória” observando o “cortejo” e prevendo, antecipando piores prognósticos de doenças que poderão me afetar como o bruxismo, problemas cervicais e mentais quando não se passa a limpo o orgulho. (Pausa)
Será isso a própria “glória”?
Yumie Okuyama
Desafio 90/90 – escrever um conto, um poema, uma página por dia.
18/90 – Acho que escrevi uma crônica (ou na vibe de "roubar como um artista")
18.06.2024
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