Antes das roomies chegarem
Cheguei no café animada para conhecer uma cafeteria na zona sul, o nome do café lembra alguma palavra italiana e sugere vinho, café e livro. Fui a primeira, das roomies, a chegar. O combinado seria um brunch. Cheguei cedo, mesmo depois de deixar as crianças na escola, passar na padaria para comprar coxinhas para a festa de São João e voltar à escola para deixar as coxinhas.
Entrei, olhei ao redor, a parte da frente bem iluminada com mesas redondas, uma decoração com máquinas de escrever antigas (se é que existem máquinas de escrever novas? Com certeza existe). Olhei para o lado, uma área mais reservada com prateleiras de vinhos. Dei bom dia para a tendente e ela me perguntou: “a mesa seria para quantas pessoas?”
- Quatro. Respondi. - Minhas amigas estão chegando e enquanto espero vou trabalhar um pouco, disse ainda olhando ao redor e contemplando os detalhes da cafeteria. Ela claramente parecia a dona do estabelecimento pois não usava uniforme como o rapaz atrás do balcão.
Ela me guiou até a parte mais ao fundo do café, uma área intimista, me direcionou para uma mesa e gentilmente me mostrou a tomada para carregar o computador. Puxei a cadeira, observando que ao lado da mesa separada por um vidro tinha um espaço para crianças, nada intimista. Achei legal poderia até trabalhar e trazer meus filhos (sonho).
Sentei-me e comecei a me acomodar, como sempre faço, abro espaço na mesa e coloco minha garrafa sobre a mesa, minha mochila na cadeira ao lado. Comecei a abrir a mochila para tirar o computador, a atendente educada falou:
- Não permitimos as garrafas em cima da mesa.
Achei estranho, fiquei constrangida.
- Ah ok. Disse sem saber o que dizer, guardando a garrafa na parte lateral da mochila. Estou sempre com a minha garrafa, levo-a para todo o canto, ela faz parte do meu ritual quando me sento para escrever. Gosto de enchê-la quando tenho a possibilidade de encher em lugares que tem água disponível ou em bebedouro publico – não era o caso daquele lugar.
Era um lugar requintado, ávido. Brunch Americano, Brunch Europeu, afastei um pouco os olhos para ler o cardápio e lendo o cardápio percebi um barulho alto constante, olho para cima, o ar-condicionado fazendo um barulho que nem as crianças do espaço kids faziam (até porque não havia nenhuma criança naquele horário da manhã).
Me levanto e caminho até a área mais iluminada do café. Aviso a atendente que vou me sentar aqui, por ser mais iluminado, não quis reclamar do ar-condicionado. “Fique à vontade”, ela me disse. Eu me sinto a vontade com minha garrafa em cima da mesa, pensei sorrindo e sentei, na cadeira da mesa redonda da parte da frente do café na expectativa da chegada das minhas amigas.
- Moça, vou querer um café coado, por enquanto, só o café. Até minhas amigas chegarem. Elas vão chegar as 10h.
- Ok, você gostaria de uma porção de pão de queijo para acompanhar o café?
Me senti acuada, como se não tivesse outra opção a não ser aceitar, pois já havia falado que tomaria só o café.
- São de queijo do reino, feito aqui mesmo na casa. Disse a atendente, boa vendedora.
- Sim, pode ser. Respondi, tentando ainda ver algo bom, comeria um pão de queijo feito na própria casa. Mas ela ainda pergunta:
- Vai querer água para acompanhar?
- Não, obrigada (sem comentários).
Finalmente, abro meu computador, gostaria de aproveitar 50 minutos que tinha até o horário delas chegarem. E a atendente, antes mesmo do meu pedido ficar pronto, ela ressalta:
- Essa área aqui é do bistrô, não pode computadores.
- Ah.. tá. Respondi, desapontada e surpresa ao mesmo tempo com tantos pequenos empecilhos, desiludida com a ideia fantasiosa de uma cafeteria dos sonhos.
Me levanto, volto para área de trás do café. Me dirijo para outra mesa porque não quero sentar embaixo do ar-condicionado barulhento.
Novamente, abro o computador para ler o texto de um grupo de leitura crítica, no qual, estou participando. Penso na senha do wi-fi e fico com receio de pedir, pensando que vão me trazer um cardápio de wi-fi (americano ultra fast, wi-fi brasileiro e wi-fi a moda da casa sem internet). Aproveitei que o rapaz (a essa altura o café estava com outros atendentes) trouxe meu pedido e perguntei:
- Tem wi-fi?
- Sim, vinhocafelivros e a senha é qualoseupedido.
Qual o seu pedido! Realçou na minha cabeça e perguntei:
- Tudo minúsculo. O rapaz consentiu com a cabeça e esperou atenciosamente a minha internet conectar para sair.
Não pode ser, até a senha me causou estranhamento. A senha poderia ser sintaseemcasa ou aprecieseucafe. Para mim, venderia melhor. Os cafés, ou a fantasia que tenho dos cafés, me remetem acolhimento, empatia, conversas agradáveis. Passada das 10h, as roomies vão chegar e eu mais tranquila porque já havia escrito todos esses sentimentos no meu caderno, acabei não abrindo o computador, não usando o wi-fi, ficando na área menos iluminada do café e, me iluminei ao vê-las chegar uma a uma e tudo passou com a mesma avidez que chegou.
Entrei, olhei ao redor, a parte da frente bem iluminada com mesas redondas, uma decoração com máquinas de escrever antigas (se é que existem máquinas de escrever novas? Com certeza existe). Olhei para o lado, uma área mais reservada com prateleiras de vinhos. Dei bom dia para a tendente e ela me perguntou: “a mesa seria para quantas pessoas?”
- Quatro. Respondi. - Minhas amigas estão chegando e enquanto espero vou trabalhar um pouco, disse ainda olhando ao redor e contemplando os detalhes da cafeteria. Ela claramente parecia a dona do estabelecimento pois não usava uniforme como o rapaz atrás do balcão.
Sentei-me e comecei a me acomodar, como sempre faço, abro espaço na mesa e coloco minha garrafa sobre a mesa, minha mochila na cadeira ao lado. Comecei a abrir a mochila para tirar o computador, a atendente educada falou:
- Não permitimos as garrafas em cima da mesa.
- Ah ok. Disse sem saber o que dizer, guardando a garrafa na parte lateral da mochila. Estou sempre com a minha garrafa, levo-a para todo o canto, ela faz parte do meu ritual quando me sento para escrever. Gosto de enchê-la quando tenho a possibilidade de encher em lugares que tem água disponível ou em bebedouro publico – não era o caso daquele lugar.
Me levanto e caminho até a área mais iluminada do café. Aviso a atendente que vou me sentar aqui, por ser mais iluminado, não quis reclamar do ar-condicionado. “Fique à vontade”, ela me disse. Eu me sinto a vontade com minha garrafa em cima da mesa, pensei sorrindo e sentei, na cadeira da mesa redonda da parte da frente do café na expectativa da chegada das minhas amigas.
- Moça, vou querer um café coado, por enquanto, só o café. Até minhas amigas chegarem. Elas vão chegar as 10h.
- São de queijo do reino, feito aqui mesmo na casa. Disse a atendente, boa vendedora.
- Essa área aqui é do bistrô, não pode computadores.
Novamente, abro o computador para ler o texto de um grupo de leitura crítica, no qual, estou participando. Penso na senha do wi-fi e fico com receio de pedir, pensando que vão me trazer um cardápio de wi-fi (americano ultra fast, wi-fi brasileiro e wi-fi a moda da casa sem internet). Aproveitei que o rapaz (a essa altura o café estava com outros atendentes) trouxe meu pedido e perguntei:
- Tem wi-fi?
- Tudo minúsculo. O rapaz consentiu com a cabeça e esperou atenciosamente a minha internet conectar para sair.
Yumie Okuyama
Desafio 90/90 – escrever um conto, um poema, uma página por dia.
20/90 – Encontro com as amigas, minutes antes.
Escrito em 21/06/2024, editado em 22/06/2024.
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